CRONOGRAMA de palestras
18.10.2022 • 09h30
Prof. Dr. Julien Véronèse*
Entre magia e exorcismo: a conjuração de demônios nos últimos séculos da Idade Média
Conjurar demônios com o objetivo de expulsá-los do corpo de uma pessoa possuída é, dentro da linha de Salomão e de Cristo, uma prática lícita dentro do mundo cristão medieval e um ofício exercido depois do século III pelo exorcista da Igreja. De toda forma, o período dos séculos XII-XV é marcado no Ocidente pela introdução e a circulação de um número cada vez mais importante de textos (majoritariamente em latim, secundariamente em vernáculo) visando a conjurar ou invocar os demônios tendo como objetivo não mais lhes fazer fugir, mas lhes obrigar a satisfazer uma multitude de desejos, do conhecimento do futuro ao feitiço de amor ou de ódio. Estes textos, por vezes sob a forma de verdadeiros tratados aos quais se deram um estatuto científico, definiram os rituais que oferecem ao conjurador, frequentemente qualificado como “mestre” ou “exorcista”, um “poder informal” que é cada vez mais considerado, a partir do século XIV, como uma ameaça pelas autoridades eclesiásticas, referido como tal na categoria de heresia e aplicável ante os tribunais, o que fez aparecer os “nigromantes” ou os “invocadores de demônios” em número cada vez maior nas fontes. Essa conferência consistirá assim em apresentar em linhas gerais essa tradição mágica específica e, com ajuda de alguns exemplos tirados dos manuscritos, as práticas que ela funda, tudo para colocar a questão de sua relação com a norma religiosa (tanto no plano teológico quanto no litúrgico) e com a atualidade judiciária no fim da Idade Média.
*Julien Véronèse é maître de conférences na Université d’Orléans (França). Suas pesquisas concernem de maneira geral à história da magia, da astrologia e da divinação no Ocidente latino nos últimos séculos da Idade Média. Ele tem interesse particular na história dos textos de magia ritual, dentro da linha de uma tese consagrada à Ars notória, uma tradição de teurgia concebida como uma “arte das artes” ou a “ciência das ciências”, e em trabalhos editoriais dedicados aos textos de “nigromancia”, dito de outra forma de conjuração de demônios, tais quais o Liber Almandal e o Vinculum Salomonis. Além disso, ele é codiretor dos Cahiers de Recherches Médiévales et Humanistes (https://journals.openedition.org/crm/) publicados nas edições Classiques Garnier.
Para uma lista de suas publicações, ver: https://www.univ-orleans.fr/fr/polen/les-membres/les-membres-de-cesfima/julien-veronese
19.10.2022 • 19h
Prof. Dr. Arthur Valle*
Arte sacra afro-brasileira frente à iconoclastia cristã
Essa intervenção discutirá atos recentes de iconoclastia contra a arte sacra ligada a contextos religiosos afro-brasileiros. Promovida principalmente por denominações cristãs, essa iconoclastia religiosa contemporânea tem pontos em comum, mas também diferenças significativas, com relação a outros movimentos iconoclastas verificados no período dito medieval ou no começo da chamada era moderna. Em particular, ela reforça uma tradição racista que estrutura a sociedade brasileira desde tempos coloniais e afronta o direito constitucional à liberdade religiosa, demandando uma análise crítica sobre suas motivações e consequências.
*Arthur Valle é e Professor Associado no Departamento de Artes e do Programa de Pós-Graduação em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Doutorou-se em 2007 pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e realizou estágios pós-doutorais na Universidade Federal Fluminense e no Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa/Portugal. É membro do Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA) e do International Council on Monuments and Sites (ICOMOS). É editor do periódico eletrônico 19&20 (https://www.doi.org/10.52913/19e20).
20.10.2022 • 19h
Profa. Dra. Katia M.P. Pozzer*
Como escapar do inferno: pactos e rituais mesopotâmicos
Na Mesopotâmia acreditava-se na finitude da vida para toda a humanidade, pois a imortalidade era privilégio divino. Assim, eles concebiam que o mundo dos mortos, também traduzido por submundo, mundo inferior, ou mesmo inferno, era a morada definitiva dos defuntos, um lugar do qual ninguém poderia sair. Nesta palestra propomos a análise do poema conhecido como "A descida de Inanna aos Infernos", onde a entidade feminina mais importante do panteão sumério é a figura-chave desta narrativa. O documento apresenta as estratégias empreendidas por Inanna para escapar de seu destino final, através da realização de pactos com outras divindades e rituais a serem seguidos por seus serviçais.
*Katia Maria Paim Pozzer é bacharel e licenciada em História pela UFRGS, obteve Diplôme d'Études Approfondies em Histoire et Civilisations de L'Antiquité pela Université Paris I (Panthéon-Sorbonne) em 1993, concluiu Doutorado em História na Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne) em 1996 e Pós-doutorado na Université de Paris X - Nanterre em 2011. Professora nos Curso de História da Arte, História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordena o Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental (LEAO) e é líder de grupo de pesquisa no CNPq. Atua na área de História da Arte Antiga e Medieval, com ênfase em História da Arte Oriental. Atualmente coordena o projeto de pesquisa "Gênero, Representação e Simbolismo na Arte Mesopotâmica".
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9408053472324588
Instagram: @leao.ufrgs
E-Mail: katia.pozzer@ufrgs.br
21.10.2022 • 10h
Prof. Dr. Carlos Roberto Figueiredo Nogueira*
Assassinatos mágicos e pactos diabólicos no século XIV
1304-1320: Invocações de diabos, pactos satânicos, assassinatos mágicos. Na França, de Paris a Avignon, instalam-se processos, armam-se cadafalsos, acendem-se fogueiras. Vinte processos são instruídos envolvendo magia e invocação diabólica., contra apenas dois, no restante da Europa ocidental. O mais significativo, no entanto, é o fato que em dezoito dos casos, estão envolvidas as elites dirigentes em conspirações ou assassinatos com o auxílio de práticas mágicas e intervenção diabólica. Tal concentração, no século XIII constitui uma singularidade histórica da França dos últimos Capetos, existindo apenas um processo semelhante, contudo acontecido em um momento anterior. Realizado fora da alçada francesa: o processo de Walter Langton, iniciado em 1301 na Inglaterra, termina por sua absolvição.
*Carlos Roberto Figueiredo Nogueira possui graduação em História pela Universidade de São Paulo (1971) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1981). Atualmente é professor Titular da Universidade de São Paulo e Decano do Departamento de História. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: Idade média, Portugal, Espanha, igreja, cristianismo e feitiçaria. Atualmente pesquisa o reinado de Pedro I de Portugal e a Crise do século XIV. Acadêmico correspondente da Academia Portuguesa da História, é coordenador do GEMPO, ligado à Cátedra Jaime Cortesão e integrado por pesquisadores da USP, UFRJ, Universidade de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade do Porto e l'Université de Poitiers/ Centre de Etudes Superieures de Civilisation Médiévale, cuja Linha de Pesquisa é "Poder e Relações de Solidariedade em Portugal Medieval"
21.10.2022 • 19h
Profa. Dra. Maria Berbara*
O diabo mora nos trópicos: considerações sobre uma gravura infernal na terceira parte da América de Theodor de Bry
No décimo sexto capítulo de sua Viagem à Terra do Brasil, publicada pela primeira vez em 1578, o huguenote Jean de Léry descreve como os habitantes originais da costa do atual Brasil - os "selvagens da América" - eram afligidos por um "espírito maligno" chamado Kaagerre, ou Ainham: "E afirmavam que o viam realmente ou sob a forma de um quadrúpede, ou de uma ave ou de qualquer outra estranha figura. Admiravam-se muito quando lhes dizíamos que não éramos atormentados pelo espírito maligno e que isso devíamos ao Deus de quem tanto lhes falávamos, pois, sendo muito mais forte do que Ainhan, lhe proibia fazer-nos mal". No terceiro volume de sua série América o grande editor protestante Theodor de Bry incluiu uma imagem destinada a ilustrar essa passagem; nela, dois europeus e um Tupi dialogam sobre o que parece ser uma horda de demônios atacando impiedosamente uma aldeia indígena.
Nesta apresentação serão tecidas algumas considerações sobre a percepção de entidades malignas na intersecção entre as culturas cristã e tupi na segunda metade do século XVI. De que maneira essas culturas projetavam seus próprios demônios uma sobre a outra? Como esses conceitos eram traduzidos, interpretados e visualizados? Como se operavam negociações transculturais a partir de noções de malignidade espiritual em um contexto colonial?
*Maria Berbara é doutora pela Universidade de Hamburgo e ensina História da Arte na UERJ desde 2005. Especializou-se em arte italiana e ibérica produzida entre os séculos XV e XVII, assim como em história cultural, globalismo na Primeira Época Moderna e intercâmbios intelectuais no mundo atlântico. Atualmente pesquisa a história da França Antártica, a imagem global dos tupinambá e a relação entre arte, doenças e processos de conversão no mundo atlântico durante a primeira modernidade. Seus projetos individuais e coletivos de pesquisa foram financiados pela Fundação Getty, Villa I Tatti, DAAD/Alemanha, INHA/Paris, Fapesp, Faperj, CNPq e Capes. É procientista e bolsista de produtividade do CNPq.
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